O atleta de cash que mais evoluiu! c/ José “Jibas” Moura
1 de Junho, 2023
José Moura, mais conhecido nos panos por “Jibas”, pertence à Polarize Team Cash desde março de 2020 e destaca-se como Jogador e Coach pela sua excelência e capacidade de trabalho. O José Moura tem 25 anos, é natural do Porto e antes de se dedicar a 100% à vida profissional de poker estudava Engenharia Eletrotécnica.
Quais foram os principais desafios que enfrentaste ao longo da tua evolução como jogador profissional de cash?
O principal desafio foi aprender a lidar com a variância, não só de resultados mas de emoções também. E, outro aspecto importante, foi aprender a criar rotinas e um método para conseguir mantê-los dia após dia.
Podes descrever-nos como costuma ser a tua rotina em dias de grind?
Eu costumo acordar por volta do 12h/13h, almoço. Depois se tiver aulas para dar ou receber costumo marcá-las para a parte da tarde se não vou ao ginásio. Depois janto e começo a grindar por volta das 22h. Por fim, faço a review da sessão e, no final, faço o cool down e vou-me deitar.
Já passaste por alguma downswing mais longa (make up)?
Neste momento estou a atravessar a maior downswing da minha carreira tanto em termos de buy-ins como de tempo. Segundo uma calculadora de variância é um cenário altamente improvável, no entanto o que percebi é que acontece a toda a gente se jogar tempo suficiente.
E, como é que lidas com ela? Tens algumas dicas?
Eu, basicamente, tento focar-me no processo! Tenho muito em conta o impacto na parte mental que acaba por afetar o meu dia-a-dia e a minha confiança. Mas, o que importa, é que mantenho o trabalho e a convicção de que “a luz está ao fundo do túnel”!
Já leste o artigo: Arise – Lidar com Downswings em Cash
Que skill consideras essencial para um jogador se tornar num jogador de cash bem sucedido?
Para mim o mais importante é a paixão pelo jogo, e daí vem a motivação para estudar e grindar! Depois, outra parte muito importante é a capacidade para tomar decisões corretas, mas difíceis, consistentemente!
Quais são os teus objetivos para este ano?
Não se deve muito fazer isto, mas defini objetivos monetários que entretanto tive de adaptar por causa de estar a atravessar esta downswing. Além disso, defini que gostaria de ir morar para Floripa durante alguns meses. Também, tenho o objetivo de avançar com o desenvolvimento da minha Start-Up, e tenho trabalhado nisso em paralelo! E, ainda, voltar aos highstakes até ao final do ano, e se tudo correr bem, pensar no salto para NL5000!
Em 2022, o José Moura recebeu o prémio “Performance do Ano”, na Gala da Polarize que decorreu em Novembro no Casino de Espinho. Distinguindo, assim, a sua performance de excelência na modalidade de Cash. Conhece todos os Vencedores de Cash
Além das habilidades de poker, o que é que o poker de alto nível te ensinou que pode ser aplicado na vida quotidiana? Quais lições valiosas aprendeste com o jogo e como as aplicas fora das mesas?
A vida é um jogo! E, o poker representa bem a vida, no sentido em que temos de lidar com a mão que nos foi dada, tendo em conta as outras partes presentes e as circunstâncias do momento temos de saber tomar a melhor decisão, independentemente, dos resultados a curto prazo! Portanto, eu acho que este tipo de perspectiva aplica-se a muitas situações além do poker.
Como é que a tua família e amigos chegados lidam com a tua profissão? Alguma vez tiveste dificuldades em explicar ou fazer com que entendessem a natureza do teu trabalho?
Inicialmente, não foi fácil de explicar aos meus pais porque são pessoas mais conservadoras! No entanto, com o passar do tempo eles foram ficando mais compreensivos quando começaram a perceber todo o profissionalismo e dedicação inerente à profissão.
Por outro lado, com os meus amigos foi bastante mais fácil porque para eles (e para mim) é um trabalho muito fixe, o que acaba por ser um motivo de orgulho para mim!
Que dicas darias a outros jogadores que poderão enfrentar desafios semelhantes ao comunicar com as famílias?
Eu acho que isso depende muito com quem se está a lidar! Mas, o caminho passa muito por ser completamente honesto e explicar todas as complexidades de jogo e da indústria em si! Acima de tudo, deixar claro porque é que nos motiva, como podemos ser bons nisto e explicar porque é que se adequa a nós!
Que conselhos darias a jogadores que estão a tentar alcançar o topo?
Eu aprendi que quem sobe mais rápido é quem trabalha mais e melhor! Ou seja, é muito importante otimizar o tempo de estudo, não só meter mais horas, mas também estudar algo que traga de facto EV para o nosso jogo.
Outro conselho muito importante é ter um grupo de estudo que é uma forma também de otimizar o tempo, pois sem dúvida que alguém que trabalhe em conjunto vai evoluir muito mais rápido do que alguém que tente sozinho.
Por último, mas não menos importante, apercebi-me ao longo do tempo que a forma física e mental são bastante importantes para alcançar o topo. Isto é, quem já grinda em níveis altos este “pormenor” vai fazer toda a diferença! Praticar exercício físico e ter uma alimentação saudável são pilares fundamentais para otimizar a performance de qualquer atleta profissional de poker!
Como descreverias o teu percurso desde que entraste para a equipa da Polarize Poker até agora? Quais foram os principais marcos e momentos de destaque?
Entrei na Polarize em 2020, no pico da quarentena. O meu objetivo inicial quando entrei para a equipa era grindar NL500. Sendo que comecei a grindar NL25. Correu bastante bem o início, e passado 2 semanas o meu coach disse-me para começar a jogar NL50!
No final do ano, por volta de novembro de 2020, dei o shot em NL500. Inicialmente, correu bem durante a 1ª semana, e depois entrei numa downswing (que me pareceu bastante grande na altura). Passado 1 mês, recuperei!
Por volta de setembro/outubro de 2021 comecei a jogar NL1000, também não tive grandes resultados até ao final do ano em NL1000, mas no início de 2022 começou a correr muito melhor!
Depois, em outubro do ano passado comecei a dar o shot em NL2000, não correu super bem. No entanto, dezembro e janeiro foram meses muito bons só que depois tirei 2 semanas de férias (algo que já não acontecia desde que entrei na Polarize) e quando voltei comecei a perder constantemente. Neste momento, estou a jogar NL200 a ver se “estanco” a ferida e a ver se volto a “entrar nos carris”.
Quais são as tuas estratégias para manter um bom equilíbrio mental durante as sessões de jogo/ Não tiltar?
Uma das regras que aprendi logo com o Arise foi não acompanhar no Tracker o resultado da sessão, apesar de que uma pessoa tem sempre noção de como está. E, em situações extremas em que me estou a aproximar da Stop Loss, vou ver.
Outra estratégia para evitar o Tilt é jogar um nível em que estamos confortáveis em perder. Ou seja, apesar de que na Polarize o dinheiro não é nosso, acho que é importante ter ganho o suficiente em níveis anteriores. Porquê? Para estarmos confortáveis na nossa vida, isto é, se perdermos determinada quantia não afeta a nossa vida.
Também aprendi com a Psicóloga da Polarize, Inês Pereira, estar em paz com coisas que não podemos controlar, e é algo que me afetava muito era tilt devido a erros que cometia. A Inês ensinou-me a ser compassivo comigo mesmo e perceber que até os melhores cometem erros. O objetivo é diminuir a magnitude e frequência desses erros, mas quando eles acontecem é deixá-los para a review e tentar perceber porque é que aconteceram.
Quais são os softwares ou ferramentas de estudo que consideras essenciais na tua rotina de treino? E como é que eles têm contribuído para o teu crescimento e sucesso no poker?
Inicialmente, utilizava bastante o Piosolver. Agora, mais recentemente, comecei a utilizar o GTO Wizard que é basicamente uma versão muito mais acessível do Piosolver. Depois, acho que muita gente despreza a importância do Equilab, eu sempre usei muito e nunca vi nenhum jogador de cash que usasse muito. Trata-se de uma calculadora simples de equity que me traz muita noção in game, ou seja, como é que eu estou contra um determinado range.
Além disso, temos outros softwares de tracking, tal como, o Holdem Manager que são essenciais para analisar stats e rever mãos. E, mais recentemente, comecei a utilizar o Hand2Note que tem uma ferramenta bastante interessante que é o range research (permite analisar as tendências de uma determinada população, ou seja, projetado para explorar ranges de diferentes tipos de jogadores nos spots onde normalmente não tens amostra suficiente do teu adversário.).
Qual é a importância de ter uma equipa e um ambiente de apoio como a Polarize Poker no teu percurso? Como isso influenciou o teu percurso e desenvolvimento como jogador?
Há sem dúvida um fator bastante importante logo no início do meu percurso que foi aprender a ser profissional! Principalmente, com o Arise (Head Coach de Cash), pois ele tinha um conjunto de aulas literalmente dedicado sobre “Como ser um Bom Profissional de Poker!”.
Além disso, claro que na minha evolução contribuíram imenso com o feedback constante, manter-me responsável pelo meu estudo, os serviços de nutrição e psicologia também foram fundamentais e, claro, sentido de comunidade.
Um grande obrigado ao nosso jogador José Moura pela sua disponibilidade e prontidão para esta entrevista. Não se esqueçam que vamos ficar a acompanhar de perto o WSOP 2023, que inicia já em junho.
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