Psicologia no Poker — Competências de atletas de alta performance
07/11/2022
O desenvolvimento de competências psicológicas é bastante importante para atletas profissionais. No entanto, ainda se revela mais necessário e indispensável para os atletas de alta performance de poker uma vez que estão em constante competição.
Neste artigo vais poder conhecer algumas técnicas psicológicas específicas que os atletas de poker devem aprender e dominar.
Treino Mental — Imagética e Concentração
A evolução do conhecimento em psicologia do desporto, designadamente a partir do que ensina a experiência dos atletas de alta performance, demonstra a importância do treino mental que se baseia em que:
- certos processos mentais estão fortemente associados ao desempenho de sucesso no desporto;
- as qualidades mentais, associadas ao sucesso desportivo, são treináveis.
À semelhança de outros processos mentais, como a atenção, a imaginação influencia a atividade desportiva de forma consciente ou inconsciente. Isto é, trata-se de uma capacidade do ser humano que pode ser usada para melhorar o desempenho.
A imagética, que surge conscientemente e focada em objetivos, distingue-se da simples imaginação que é espontânea, juntando diferentes tipos de experiências.
Mas, o que é a imagética? Trata-se de um processo mental que pode ser treinado, referindo-se às funções cognitivas que permitem a criação de uma imagem mental.
O treino mental quando incide na imagética, pode utilizar-se com diferentes objetivos:
- melhorar uma habilidade;
- melhorar a concentração pré-competitiva;
- aumentar a autoconfiança;
- controlar as respostas emocionais e a ativação;
- praticar estratégias individuais ou de equipa;
Concentração
A imagética pode contribuir para uma melhor concentração, ou seja, uma melhor focalização da atenção numa parte específica do envolvimento. Com essa finalidade, deve ser centrada nos aspetos relevantes para a tarefa, já que serve para preparar o indivíduo para uma atividade particular e não opera simplesmente através de um efeito geral nos estados emocionais ou na confiança.
Por exemplo: “Eu visualizo o que o adversário que estou a defender vai fazer, quais são as suas tendências e como é que eu vou agir contra isso.”
Além disso, existem outras técnicas psicológicas para se melhorar a capacidade de atenção no desempenho:
- rotinas pré-competitivas e planos de ação em competição que ajudam o atleta a focar-se exclusivamente naquilo que pode controlar;
- definir objetivos de desempenho que focam a pessoa em pensamentos relevantes para a tarefa;
- controlo da ativação, de modo a ter-se apenas presente o objetivo da ação;
- autoverbalização que ajuda a refocalizar rapidamente nas pistas relevantes para a tarefa como, por exemplo, o uso de palavras-chave, ou de autoinstruções.
Há, contudo, situações em que pode ser útil focalizar a atenção noutros aspetos que não naquilo que se está a fazer ou que se sente. Isto é, o praticante beneficiará se desviar a atenção do esforço que está a despender.
Técnicas de Relaxação e de Ativação
Os momentos de competição em particular são causadores de pressão, ou stress, no atleta. Este facto é inevitável e até desejável, uma vez que haver pressões para o atleta agir é uma consequência de estar em contacto com o mundo da competição. Há um processo de constante regulação com o envolvimento. Contudo, se por vezes o envolvimento potencia o desempenho do atleta, noutras dificulta-o quando há um desajuste entre os fatores internos e externos ao praticante.
O sistema nervoso tem precisamente a função de regular o comportamento, bastando para isso que o atleta esteja empenhado em harmonizar-se com o contexto em que se encontra (estudo, warm-up, jogo e competição). A capacidade de regulação com o meio permite-lhe ser autónomo.
O Estado Psicológico é regulado pelos seguintes aspetos:
- ligações que o atleta tem com experiências anteriores – permite encontrar significados no presente;
- ligações com experiências futuras – permite a antecipação de estados de funcionamento;
- flexibilidade da articulação de todos os fatores anteriores relativamente ao contexto apresentado.
Este processo de total ligação entre o atleta e a situação é chamado estado de flow. O estado conduz à sensação de realização da tarefa sem qualquer esforço, pelo que as ações são realizadas com grande fluidez e espontaneidade, otimizando o desempenho.
Quando se atinge o estado de flow, a concentração é total, conseguida sem esforço e mantida durante longos períodos de tempo. Isto é, permite ao atleta de alta performance estar disponível para todas as possibilidades de desempenho relevantes para obtenção do seu claro objetivo. Como resultado da elevada concentração na tarefa, o atleta liberta-se dos pensamentos negativos e das preocupações que o possam afetar.
Técnicas de Relaxação
Muitos praticantes desenvolvem as suas próprias estratégias de autocontrolo. Destas estratégias, a mais referida é a relaxação. Há duas razões que justificam a sua importância:
- Todos os atletas sentem pelo menos alguma ansiedade durante a competição, mas é a capacidade de controlá-la e de a usar em proveito próprio que distingue os melhores.
- Quando se tem desempenhos excepcionalmente bons, em flow, os atletas referem a sensação de relaxação.
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Técnicas de Ativação
Nem sempre o atleta precisa de relaxar. Ou seja, bem pelo contrário, muitas vezes precisa de se ativar, de ficar mais vigoroso e energético.
As Técnicas de Ativação mais utilizadas são as que se seguem:
- Aumentar a frequência respiratória. Inspirações rápidas e profundas tendem a ativar.
- Agir energicamente. Uma espécie de reaquecimento que mostre grande prontidão e dinamismo.
- Usar palavras que ativam. Há palavras que quando usadas com as técnicas que acabámos de referir, ou por si só, podem ativar o atleta: “Força”, “Eu consigo”, etc.
- Ouvir música que ative. Música que energize é específica de cada um, mas em termos genéricos, a música entusiasmante tende a ativar.
- Visualização mental que ative. Imaginar situações e movimentos que ativem — imagética.
- Fazer um Warm-Up antes. Essencial para te prepares mentalmente para a ação.
- Ter rotinas prévias ao desempenho. Induzem a regulação de um estado ajustado de ativação específico para a tarefa.
Jogar poker profissionalmente exige dedicação, muito estudo e controlo psicológico. Sendo que, o treino psicológico se for desde sempre introduzido no plano de carreira do jogador, preferencialmente, com a colaboração de um psicólogo do desporto, então será menos provável a necessidade de uma intervenção reeducativa no atleta.
Este artigo foi elaborado tendo por base, essencialmente, o documento de apoio “Psicologia do Desporto por Sidónio Serpa” do IPDJ.
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