Ricardo Caridade: “Eu sei que não sou pior jogador do que era em 2022, sou melhor!” (Parte 2)

4 de Setembro, 2024

Na segunda parte da entrevista, Ricardo Caridade fala sobre a sua rotina de grind e as estratégias essenciais para o sucesso no poker. Ele discute as diferenças entre jogar online e ao vivo, partilhando a sua experiência em eventos ao vivo, e reflete sobre como lida com os desafios da variância.

Como lidas com a variância? Já passaste por alguma downswing longa?

Ricardo Caridade poker

Sem dúvida, tem sido uma aprendizagem ao longo dos anos. Já tive algumas downswings. Aliás, já tive uma relativamente grande… Na altura ainda não era profissional, era semi-profissional. Foi antes de 2020 e tive uma downswing durante cerca de um ano, E por volta dos 30K. Foi a minha primeira downswing!

Agora, estou a passar por outra downswing, há cerca de um ano e três/quatro meses. Tem sido uma aprendizagem. A melhor forma de lidar com uma downswing é controlarmos aquilo que podemos fazer e aquilo que podemos melhorar. Ou seja,  o mais importante é continuarmos a trabalhar da mesma forma ou melhor ainda.. Eu vejo as downswings como as alturas em que trabalhei mais. Por exemplo, o ano de 2022 correu muito bem para mim, e não trabalhei nem 20% ou 30% do que trabalhei, por exemplo, no ano passado. Então, é preciso tirar coisas boas das downswings!

Eu sei que não sou pior jogador do que era em 2022, sou melhor! Simplesmente, as downswings acontecem e temos de saber lidar com elas… e a melhor maneira de lidar com elas é estar presente todos os dias, trabalhar todos os dias, manter as melhores rotinas possíveis, fazer tudo aquilo que conseguimos controlar. E, tudo o resto que não está sob o nosso controlo, temos de saber lidar com isso da melhor forma.Claro que é difícil, é muito fácil falar… mas é muito mais difícil passar por elas. No entanto, acima de tudo, vejo pontos positivos nas downswings e em todas as fases da vida… Portanto, não têm só pontos negativos ou positivos, têm ambos. E, é um bocado por aí que tento ultrapassar.

Que conselhos darias a jogadores de nível 1-2 que querem chegar aonde tu estás?

Acho que não há grandes segredos. Como já falei anteriormente, o trabalho e a resiliência são, do meu ponto de vista, das maiores virtudes para um jogador de poker. Trabalhem o máximo que conseguirem, grindem o máximo que possam e só assim vão crescer. Acho que qualquer pessoa, em qualquer área, se investir trabalho, dedicação e estudo, acabará por ser boa naquilo que faz. Hoje em dia, o poker está cada vez mais difícil, logo a única forma é trabalhar mais e melhor do que os outros!

Quais são os softwares ou ferramentas de estudo que consideras essenciais na tua rotina de treino?

Uso muito o GTO Wizard, especialmente agora com a nova ferramenta de IA e a de ICM pós-flop, que acho mesmo fulcral para a nossa evolução. E, claro, depois dá muito para manipularmos os ranges que queremos que os vilões tenham, adaptarmos… temos de ter um espírito muito crítico. Uso muito o GTO Wizard. Também uso o Holdem Resources, mas com menos frequência.

Conta-nos sobre a tua experiência no centro de alto rendimento do Brasil. Como é que afetou o teu jogo?

A minha experiência no Brasil tem sido sempre boa, por isso é que tento todos os anos ir mais de uma vez. A melhor experiência foi quando estive lá dois meses seguidos, em que tivemos um mês, basicamente, só a estudar e a grindar também, mas com mais componentes de estudo! Depois, tivemos os WCOOPs para jogar, em que o estudo abrandou um bocadinho, mas foi das alturas em que mais evoluí, em que respirámos poker 24 horas por dia! São sempre grandes momentos de poker, onde aprendemos todos uns com os outros.

Portanto, a minha experiência lá é muito positiva, são sempre as alturas em que mais evoluí no meu jogo, porque estou rodeado de pessoas que percebem muito do jogo e que, claro, podem trazer muito, muito benefício e muita evolução.

Apesar de serem alturas em que evoluí, estamos lá mais numa componente de grind e não tanto de estudo. Por mais que haja estudo, o estudo fora de séries é muito mais intenso. Mas, regra geral, toda a minha experiência no Brasil tem sido muito boa.

Revê o Documentário “Mais do Que Um Jogo” gravado no Centro de Alta Performance no Brasil

Qual a maior aprendizagem que tiraste do Poker até ao momento?

É difícil, tenho várias que tirei. Vou acabar por me repetir outra vez, mas acho que é mesmo mais importante. E, é a resiliência que é preciso para vingar! Eu já de mim sou uma pessoa que sempre fui bastante resiliente, mas se achava que era resiliente antes de conhecer o Poker, agora após tudo o que já passei ao longo da minha carreira, acho que foi das coisas em que mais evolui.

É preciso mesmo muita força, muita vontade e muita dedicação. E, estar preparado mentalmente para isso! Então diria que acho que a resiliência é o ponto mais fulcral para mim. 

Quais são os teus objetivos para este ano?

Nos últimos tempos tenho tido como objetivo: melhorar o meu sono — é o meu tendão de Aquiles, tenho mais dificuldade em ter uma boa rotina de sono, então esse é um dos meus principais objetivos.

Depois, quero manter a minha rotina de exercício físico e alimentação, que às vezes é difícil de conseguir, principalmente, em alturas de torneios ao vivo. Portanto, agora, é manter a rotina até ao final do ano. Esses são os principais objetivos. Outro objetivo que tenho é superar esta downswing e chegar ao nível 7.

Vamos a isso, Caridade! Muito obrigada pelo tempo despendido para responderes a todas as questões. Continua com o excelente trabalho e dedicação que tão bem te caracterizam como jogador, coach e pessoa.

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